domingo, 2 de dezembro de 2012

O que o movimento LGBT tem feito pelas/pelos travestis e transexuais?


Este texto aborda uma questão muito importante na luta das transexuais e travestis por seus direitos, resolvi compatilhá-lo, pois é uma visão muito clara sobre algumas divergências que acontecem dentro do próprio movimento LGBT em relação as necessidades reais de transexuais e travestis.


Ótimo blog, recomendo a todos : http://alegriafalhada.blogspot.com.br/



Por Daniela Andrade, autora do blog Alegria falhada.

Vejo a todo momento esse movimento que se diz LGBT excluindo travestis e transexuais. Aliás, a grande maioria nem sabe o que é travestilidade/transexualidade. Acham que todos(as) somos gays/lésbicas.

Sabemos que o movimento LGBT empunha a bandeira da igualdade, quando promovem uma parada GAY, estão lutando pela aprovação do casamento GAY, estão lutando pela criminalização da HOMOFOBIA (o que é transfobia? pois mesmo quando há crimes transfóbicos, vejo os gays dizerem que é homofobia). E os direitos dos(as) transexuais/travestis, onde ficam?

Vi em diversas páginas no Facebook, que se dizem LGBT, posts escrito: "18 ativistas homossexuais assassinados até agora". Aí você vai ver a lista, tem travesti e transexual no meio. Ou seja, quando é pra inchar estatísticas de mortes de gays, vamos colocar transexual e travesti na história. Infelizmente não vejo articulação, salvaguardando raras exceções, do movimento LGBT em prol das travestis e transexuais. Quando não, o que vemos é preconceitos dos gays (transfobia) inclusive nas tais das paradas gays (vide Parada Gay de Piracicaba de 2012, em que excluíram travestis dos carros).

E digo uma coisa, sofri/sofro bastante preconceito por parte dos gays. Já me falaram coisas do tipo "você só será mulher pra mim quando se operar" - e olha, vindo da boca de gay. Acho incrível, pra não dizer patético, que pessoas que sejam tão excluídas na sociedade, sejam também as que nos excluem.

E, falando em movimentos de pessoas excluídas, estendo minha crítica também a muitos movimentos que se dizem feministas, o que há de integrantes achando que Travestis e Mulheres Transexuais não são mulheres ("de verdade") e logo, vamos esquecer elas na nossa luta, não tá no gibi.

A solução, por exemplo, seria um grupo que se diz fundamental para o movimento... LGBT, que é o GGB (Grupo Gay da Bahia) parar de noticiar num blog bem famoso (http://homofobiamata.wordpress.com/) as mortes de travestis e transexuais para inchar os dados. Reparem que inclusive o nome do blog ignora que haja algo além de homofobia.

Entro nesse blog e tá lá a notícia nua e crua, tal e qual foi pinçada da fonte da grande mídia: desrespeitando a todo momento a identidade de gênero das travestis e transexuais. Quer dizer, a pessoa foi morta geralmente de forma horrenda, mas não tem direito nem a ter a identidade respeitada. É "o" travesti... Não! Nâo é "o" travesti pois não estamos falando de um homossexual com roupas de mulher - apesar que grande parte dos gays pensem assim. E vamos informar nossos leitores de que transfobia também existe, nem tudo se resume à homofobia. E não venham dizer que "estamos apenas reproduzindo a notícia", por que quem reproduz notícia arca com a responsabilidade do que informa. Ainda mais dizendo lutar pelos excluídos.

Eu acho uma palhaçada o que grande parte desses movimentos fazem em relação às/aos TTs e dizem ainda ser LGBT. Vamos tirar essa cortina de preconceito da nossa frente e vamos ser mais realistas.

A alternativa é começar a capacitar essa militância a aprender mais, parar de achar que tudo se resume à homossexualidade, homofobia, casamento gay. Acho tudo isso muito importante, jamais deixaria alguém falar nada de preconceituoso contra os gays, mas a recíproca, muitas vezes não vejo verdadeira. Inclusive, a maioria dessas pessoas não sabem quais são as necessidades específicas de travestis e transexuais.

As paradas gays tem encampado a luta pela despatologização da transexualidade?

Os gays têm lutado para que travestis e transexuais tenham direito a usar o nome social em todos os ambientes?

Os gays têm lutado para que travestis e transexuais tenham direito ao acesso universal à hormonização em todo o sistema público?

Os gays têm lutado pela ampliação e melhoria das cirurgias de transgenitalização no Brasil (lembrando que apenas 4 hospitais em todo o país realizam esse procedimento, onde transexuais amargam anos a fio na fila de espera)?

Os gays têm lutado para que travestis tenham acesso a um sistema de saúde que atenda suas necessidades no que ampara a retirada de silicone industrial do corpo dessas pessoas?

Os gays têm lutado pela inserção e visiblidade de travestis e transexuais?

Se tem, mostrem para mim onde, pois vejo travestis e transexuais lutando sozinhas, mas os gays querem chamar o movimento de LGBT.

Eu trouxe aqui questionamentos ímpares no que diz respeito aos direitos de travestis e transexuais que são desrespeitados o tempo todo - e que não o são no caso de gays, por exemplo e gostaria de saber se inclusive os movimentos que se dizem LGBT sabem quais são as necessidades que dizem respeito apenas a travestis e transexuais. E questionei onde estão as ações dos movimentos LGBTs como um todo, por isso fiz a generalização. Não adianta me responderem com fatos isolados. Sim, eu vejo um ou outro movimento inclusive sabendo o que é travestilidade/transexualidade: o que é um marco, mas o que eu digo é que é muito pouco. Esses movimentos deveriam sair de dentro do conforto do debate APENAS da orientação sexual.

E vou dizer outra coisa, o movimento LGBT se chocou quando a VEJA publicou aquele famoso texto sobre gays e cabras - e com razão, mas o que fez esse movimento quando pouco tempo depois foi publicado também num veículo de grande expressão (Revista Época) um texto do Walcir Carrasco em que na pretensa atitude de falar bem de travestis e transexuais, perpetuou preconceitos, tratou-as como homens travestidos, desrespeitou identidade de gênero e escreveu que é um crime se hormonizarem jovens - bem demonstrando não saber o que significa a hormonização na vida de uma travesti ou transexual.

Mostrem para mim onde há tantas manifestações do movimento LGBT criticando esse texto, pois eu ainda não achei. Mas para o texto da VEJA houve uma comoção. Eu penso o seguinte, estamos do mesmo lado da luta, mas parece que uns são mais preferidos que outros.

Vamos falar para toda essa gente ir estudar antes de abrir a boca pra falar que está defendendo o movimento LGBT. Nem precisa ler muito não, basta sair da preguiça e do ostracismo pra ver algo além do umbigo.

Eu luto e continuarei a lutar para que travestis e transexuais sejam vistos/vistas dignamente, mas isso parte da quebra de estereótipos de que há um movimento LGBT coeso, pois não há. Essa é a realidade nua e crua: TTs são invisibilizados(as) por todos os movimentos.

E não, não estou satisfeita, mas sim, procuro levar informação ao máximo possível de pessoas. A todas as formas de preconceito eu respondo com informação - assim como conheço centenas de TTs que lutam diariamente para mostrar que nós existimos, que temos direitos ignorados e que esse movimento LGBT precisa nos dar voz, que essas pessoas que se dizem militantes precisam estudar algo além de orientação sexual.

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